terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Em Movimento

        Débora Maia de Lima estava lá, na frente de um público curioso, num templo da mente e com jeito despretensioso se propunha a falar sobre “O corpo e o movimento”.  Isso soava um pouco como heresia no espaço acadêmico. Para quem esperava uma contradição, um embate, um espetáculo, foi frustrante ouvir que a oposição entre corpo e mente não existe necessariamente, apesar dos conflitos. Quando se fala de movimento e dança, termos também presentes na palestra da noite de sexta feira 7 de dezembro, cria-se, muitas vezes, a expectativa de um show: o que o outro faz para o nosso prazer. Mas isso também não ocorreu. A ideia que pairava no ar era o que cada um poderia fazer para o seu próprio prazer (e eventualmente dor) redescobrindo seu movimento (e muitas coisas estão envolvidas nessa expressão!) e a si mesmo.
       Havia nas palavras daquela mulher uma simplicidade que desarmava as resistências e nos permitia ouvir. Talvez o corpo já estivesse acordando e se preparando para o que viria nos próximos dois dias (8 e 9 de dezembro) de workshop, que eu não conseguiria resumir em palavras.
       Tal impasse se deve, em grande parte, ao fato de que a experiência, o aprendizado, é processo tanto individual quanto coletivo. O grupo envolvido cria (e viva a criatividade!) um espaço único que vai viabilizar compreensão, apreensão, desenvolvimento de cada indivíduo que, por sua vez, traz sua própria bagagem, sua história, seu padrão de interação social. Por isso, cada qual poderia descrever de um ponto de vista particular o que se passou no workshop.
        Trata-se do corpo, mas também da mente. Trata-se do agora, mas também do passado. Envolve a compreensão de limites, mas a construção de possibilidades de superação. Dessa visão que busca reconectar o que está dolorosamente separado surge a compreensão sobre os processos de ensino e aprendizagem que entram em choque, sim, com a visão fragmentada de ciência e de vida que ainda tem lugar privilegiado na academia e em nossas sociedades.
       Isso não significa, contudo, que tais discussões não estejam também presentes nesse espaço acadêmico, particularmente nos debates transdisciplinares que são eles próprios grandes desafios.  Nesse sentido, a experiência do workshop, a (re)aproximação entre corpo e mente, também se refere ao futuro. Aquele que desejamos construir, possibilitando também uma aproximação da ciência, da academia das questões que realmente são fundamentais em nosso cotidiano, resgatando nossa autonomia em ideias, produção e práticas. Nas palavras de Boaventura de Sousa Santos, estaríamos focalizando “uma ciência prudente para uma vida decente”.
    Tem muito espaço na academia para discussões e experiências como estas e, definitivamente, nos movimentamos um pouco mais intensamente depois desse workshop.

Por
Flávia Naves


3 comentários:

  1. Flávia querida, que bela síntese do que se passou naqueles três dias. Fico imensamente feliz que as oportunidades da vida permitam que o (re)encontro com o movimento possa ancorar em terreno fértil para ser ativado, porque ao final é só isso que somos, movimento. O aprendizado é sempre maior pra mim, quando posso compartilhar o que alguns mestres, pacientemente, me ensinaram. E sigo aprendendo, sempre sempre sempre. Estar com vocês foi um prazer e, torço para que este encontro dê muitos frutos... Seguimos...Déborah

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  2. Foi maravilhoso! Obrigada por nos proporcionar esse curso maravilhoso!!! Quero mais e mais!!!

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  3. só gente boa aí!! hahaha foi show de bola!

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