Quando era criança achava que o mundo terminava no horizonte, onde minha
vista alcançava. A terra, o mundo eram mais ou menos a mesma coisa e
aquele limite da minha visão, representava a verdade sobre o mundo. Um
dia, depois de muitos anos, saí pela primeira vez de minha cidade. Passei por
aquele ponto que enxergava de minha janela. Vi minha casa, meu bairro e quase
me vi, olhando de lá, o que parecia uma imagem clara, segura pouco
mutável do mundo. Essa experiência infantil me modificou me fez mais curiosa
por outras perspectivas, por outras lentes, pelo olhar do outro, por outros
pontos de vista.
Isso não significa que eu não tenha voltado várias vezes àquele mesmo
ponto de observação ou mesmo que não tenha levado para outras paisagens e
contextos um pouco da perspectiva daquele ponto.
A construção do conhecimento é muitas vezes a desconstrução e
reconstrução do que nos parece estável, perene, absoluto. Frequentemente
promove um reconhecimento de nós mesmos. Sob vários aspectos a tentativa de
experimentar uma vivência transdisciplinar na construção do LETRA tem me
propiciado novamente incursões que levam a enxergar fenômenos, fatos, relações,
sentimentos por perspectivas inusitadas, inesperadas. Não se trata de um
caminho de respostas fáceis, de segurança constante. É mais um caminho de
muitas perguntas, de idas, de retornos, de pequenas conquistas, de inquietação,
de muito compartilhamento, que traz outras experiências, outras dúvidas, novos
debates, pequenos avanços... nada tão novo: apenas uma experiência
absolutamente humana no fazer ciência.
Por
Flávia Luciana Naves Mafra
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